Estava
ali sentado no chão de uma calçada imunda, maltrapilho, sujo, fétido, a pele em
carne viva, feridas abertas. Comia restos de comida desesperadamente usando
apenas as mãos. Àquela altura, tudo o que importava da vida era matar a fome e
sobreviver até onde desse. Não tinha esperanças em dias melhores, não tinha
perspectivas, não tinha dignidade... Apenas fazia parte do submundo, da escória
da sociedade. Uns o observavam com repúdio, outros, com pena, jogavam-lhe
alguns trocados. Todos, perplexos, o olhavam. Alguns cochichavam entre si a
situação daquela pobre criatura. Mas nenhum foi capaz de estender-lhe a mão e
oferecer uma ajuda que fosse capaz de tirar-lhe daquela condição miserável.
Nenhuma
desgraça, no entanto, causa comoção por muito tempo. O sensacionalismo some na
medida em que acaba a curiosidade. É tudo momentâneo. Num minuto
aquilo já perdia o interesse, e as pessoas, seus egoísmos inatos do ser humano
e seus “milhões de afazeres”, seguiam seus rumos. Ficava para trás só mais um
ser desafortunado, praticamente desprovido de vida, que por um instante os fez
parar de reclamar de suas dificuldades (para a maioria que ali estava, singelas
dificuldades na frente das dele). Todavia, passou. E voltaram a suas rotinas
normais, calma e serenamente, como deve ser. (Será mesmo?!).
Olhando
essa cena ontem fiquei refletindo sobre as nossas atitudes perante os outros.
Como somos pequenos e egoístas. A maioria, inclusive eu, não foi capaz de fazer
nada. Apenas olhavam. Fico pensando em como o mundo seria melhor se agíssemos
como pessoas melhores, mais solidárias e socialmente engajadas. Para mim aquele
fato não passou em branco, senti-me muito tocada, algo vai ter que mudar e vai
mudar pra melhor. Saiamos da zona de conforto e vamos rever nossos conceitos.
Aline Teodosio..